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A garota que renunciou ao tradicional pelo certo

Akise tinha consciência de que não deveria estar ali. A separação só se tornaria mais dolorosa, o melhor era esconder-se logo de vez. Entretanto, fazia um dia tão belo e o fraco calor das primeiras horas da manhã lhe era tão agradável que não conseguira resistir: tinha de se despedir do sol corretamente.
Como eleita para sacerdotisa da deusa da lua, teria de passar o resto de seus dias com permissão para sair do templo apenas sob a luz do luar. Desde cedo fora instruída e estava conformada com seu destino, mas não conseguia evitar certa melancolia ao esticar os braços para fora da sombra e sentir aquela energia calorosa. Tinha escapado para a floresta mais próxima e se escondido sob algumas densas folhagens, os pés descalços sentindo a umidade da terra.
Estava tão distraída em seus pensamentos que apenas tardiamente notou o movimento nos arbustos a sua frente. Levantou o rosto e, ao se deparar com dois pares de olhos brilhantes, instintivamente deu um gritinho e caiu para trás; a criatura na moita pareceu fazer o mesmo.
Depois de mais calma, a curiosidade da moça a venceu e ela se aproximou das folhagens, ajoelhando-se. O que viu ali foi uma espécie de felino, mas que tinha duas cabeças e caudas. Estava claramente assustado, as orelhas baixas e os queixos entre as patas.
"Ei, venha cá... Não vou lhe fazer mal", Akise sussurrou-lhe, estendendo a mão suavemente para lhe transmitir alguma confiança.
Inicialmente, a criaturinha pareceu receosa, mas sentindo ali alguém em que poderia confiar, saiu da moita e deu alguns passos em direção à garota, farejando-lhe as mãos até que enfim esfregou-se em seus braços com um ronronado. A outra riu, deleitada com o carinho do bichinho, acariciando-lhe as cabeças. 
"O que você é?", perguntou, mais a si mesma do que para o felino. Este limitou-se a esfregar-se nas pernas de Akise, soltando curtos miados. 
E assim continuaram pelo resto do dia: fizeram companhia uma ao outro e brincaram. Em certo ponto, Akise se esgueirou até a aldeia e afanou um pouco de comida, mas percebeu que a criatura apenas beliscou alguns docinhos que trouxera no meio. 
"Preferência por doces, hein? Acho que vamos nos entender", disse a moça, achando graça dos gostos do bichano. 
Aquele dia passou rápido demais para infelicidade de Akise. Sentiu a melancolia tomar-lhe de novo o coração ao perceber o sol desmanchando-se no horizonte. Era o momento que grande parte da atividade começaria em sua vila peculiar. 
Olhou para o novo amigo que certamente nunca mais veria e, com os olhos marejados, inclinou-se para beijar cada uma de suas cabeças. Já este encarou-a com os grandes olhos carregados de uma súbita seriedade e sabedoria. Akise não questionou-se o porquê: apenas correu de volta para casa sem dizer mais nada. 
Mal adentrou em casa, foi recebida com sermões e perguntas sobre onde ela estava. Abaixou a cabeça e ouviu tudo em silêncio até que se cansassem e começassem os preparativos para a cerimônia da noite. Foi levada, deram-lhe banhos com sais perfumados e passaram óleos caros em seu corpo. Tatuaram-lhe o rosto com as marcas da deusa, vestiram-lhe e adornaram-lhe com roupas e joias de sacerdotisa. Agora, só teria de aguardar que fosse chamada e levada para o grande templo, onde seria consagrada sacerdotisa. 
De onde estava, ouviu o movimento aumentar, junto com o riso, a música e dança de seu povo. Depois do que pareceram horas, finalmente ouviu a voz de seu pai iniciar um discurso em sua honra e no fim dele, chamar seu nome. Levantou-se e seguiu para fora e dentro da multidão que a aplaudia enquanto passava. Todavia, os aplausos foram subitamente substituídos por gritos de susto. Arregalando os olhos, percebeu que todos abriam espaço para outra coisa passar, que vinha na sua direção. Só teve tempo de ver os dois pares de olhos da criaturinha que conhecera na floresta, antes que os guerreiros locais passassem por ela e corressem em direção a ele com intenções claramente nada amigáveis. 
Nesse momento, deixou de lado toda a dignidade e levantou as saias para perseguí-los, berrando "Parem, deixem-no em paz!". Sendo bem rápida, a moça ultrapassou-os e pôs-se na frente da criatura em sua defesa, olhando para os outros com uma raiva contida. Todos ficaram no mais absoluto choque.
"O que você pensa que está fazendo?", sibilou seu pai, furioso. 
"O que vocês pensam que estão fazendo? Enlouqueceram? Por que toda essa algazarra por causa de uma criaturinha?", confrontou-os, tomada de uma coragem que jamais sentira. 
"É uma criatura impura que veio representando o mal para interromper a cerimônia", disse o chefe dos guerreiros, olhando-a como se fosse uma idiota. 
"Impura por que? Por que vocês não o conhecem? Ele apenas viu o movimento e interferiu, não tem culpa!", tentou argumentar, mas já com os olhos cheios d'água ao perceber que não ganharia a discussão contra toda aquela multidão. 
"Chega, você está completamente desequilibrada! Guardas, levem-na para dentro agora! A criatura será sacrificada amanhã em oferenda a nossa deus", e mesmo com os protestos da moça, por ordem de seu pai, os guerreiros arrastaram-na para dentro de casa, enquanto os outros amarravam a pobre criaturinha assustada. 
O movimentos cessaram por aquela noite. Toda a multidão se dispersou, com medo do que a criatura poderia ter atraído. Já Akise chorou por horas, pela primeira vez inconformada pelo destino que lhe fora imcubido. Virou-se e revirou-se na cama, mas como nada lhe trazia paz, decidiu que iria caminhar um pouco. Pulando a janela, fugiu para o lugar que até ela menos esperava: o templo lunar.
Chegando nas escadarias, sentou-se, sentindo-se subitamente revitalizada. Uniu as mãos e fechou os olhos, sussurrando para a entidade como se ela estivesse ali próxima. 
"Minha Senhora, eu não sei se me escuta, mas... Você não pode estar de acordo com isso, certo? Ele é bom, não há maldade nele, assim como não há maldade no todo desconhecido. Eu não consigo apoiar essa vida temerosa e reclusa, não consigo sacrificá-lo e se o que dizem é de Seu agrado... Então não posso mais estar aqui", declarou, uma lágrima solitária escorrendo-lhe a face. 
Então algo bem estranho aconteceu: a lágrima parou no meio da queda, suspensa no ar. Olhando ao redor, a moça percebeu que não só a lágrima, mas literalmente o tempo pareceu suspenso, parado. Só ai, como se escorresse diretamente da lua, uma essência prateada desceu e caiu, tomando a forma de uma mulher bem a sua frente. Tinha a expressão suave, mas valente como a de uma guerreira, os trajes maculosamente brancos e prateados, assim como seus longos cabelos e olhos. 
"Levante-se, Akise. Olhe-me nos olhos.", disse com grande solenidade, ao que a outra ergueu-se e encarou-a ligeiramente assustada.
"Quem é...?", perguntou, embora não precisasse realmente de uma resposta.
"Para alguns sou Selene, para outros sou Ártemis. Chame-me do que preferir, minha querida... Sou a deusa protetora das donzelas, a deusa da lua", respondeu-lhe, agora com mais afeto. 
"Oh, minha senhora...", e fez uma reverência um pouco sem jeito, pondo uma das pernas pra trás e puxando duas pontas de seu traje entre os polegares e indicadores. 
"Tudo  bem, minha querida, eu entendo... Não precisa dizer nada. Terei de ser breve porque o tempo não deve sofrer muita interferência. Veja, ainda flui", e apontou para a lágrima de Akise que quase imperceptivelmente caia, "você me questionou sobre o que é certo e o que é errado de acordo com a visão que seu povo tem de mim..."
"Devo dizer que sua linhagem é antiga, anos demais... E ao longo de todos esse anos sem qualquer contato com o exterior, as visões terrenas vão se modificando ao seu favor. Hoje, meus ensinamentos já sofreram muitas modificações e, embora eu tenha mandado vários sinais, seu povo prefere acreditar no que escolheram e não no que ditei."
"Mas então, a criaturinha..."
"É na verdade um de meus protegidos, pois é uma criatura da noite.", concluiu a deusa. 
"Oh, não... E eles querem.... sacrificá-lo...", murmurou Akise, unindo as mãos em frustração pelo erro de sua aldeia. 
"Criança, ele foi enviado por mim, para libertá-la. Sei que não será feliz aqui e vejo em você uma nova mente, mas aberta a mudanças. Liberte-o e fuja... Seja feliz com uma nova vida, aprenda coisas novas... Domine as habilidades que se escondem em você", disse a deusa, tocando o ombro da moça ao passo de que esta teve certeza de que a divindade se referia aos poderes elementais perdidos de sua família.
"Mas... esses poderes sumiram há gerações e eu... Eu terei coragem de partir?", perguntou, angustiada. 
"Vai descobrir que tudo só precisa de treino... Você têm mais coragem que pensa, minha querida. É uma verdadeira sacerdotisa da lua. Agora vá e parta com a minha benção.", dito isso, a deusa inclinou-se e beijou-lhe a testa, envolvendo-a numa cálida luz enquanto desaparecia. Um instante depois, o tempo escorria normalmente e no lugar da divindade, ficara-lhe ali o estímulo que precisava. 
Retornou silenciosamente para casa, arrumando uma trouxa considerável, lembrando de pôr ali todos os maanas e moedas de ouro que tinha, além de lanches e jóias que seriam bastante úteis para lhe manter por algum tempo. Trocou a roupa por um vestido azul mais cômodo, mas resolveu levar suas vestes de sacerdotisa por afeição a sua deusa. Pulando novamente a janela com a trouxa pesando-lhe nas costas, correu furtivamente até onde sabia que estava preso a criaturinha do dia anterior, numa gaiola da prisão, supostamente vigiada por guerreiros - dormiam em pé naquele horários, quase nunca tendo quem vigiar. Quando o felino a viu, encarou-a com clara alegria no olhar, mas com sabedoria de que deveria fazer silêncio. Conseguindo pegar a chave do lado da cabeça de um dos vigilantes, a sacerdotisa libertou o amigo e juntos, fugiram dali apressadamente. 
Passaram por todas as construções da cidade, Akise encarando tudo aquilo como se esperasse sentir qualquer coisa que a segurasse ali. Todavia, nada lhe veio, se não a empolgação ao ver a floresta se aproximando. Olhou para trás e, avistando o grande templo, pôde jurar que ouvira a voz sorridente da deusa dizendo-lhe para partir. Não esperou mais nenhum sinal: pôs-se a correr em direção ao desconhecido, o animalzinho perseguindo-lhe sem nenhuma dificuldade. Quando ultrapassou seus limites, deu gritos e gargalhadas de puro deleite, o sol subindo lentamente e iluminando tudo o que poderia explorar dali pela frente. 
Correu até cair de exaustão, mas ainda sorria. O sol já estava alto quando ela e sua companhia desfrutaram de uma pequena refeição, sentados numa clareira úmida e florida. Depois dessa pequena pausa, andaram, andaram e andaram, até que o sol se pôs e muito cansados, se aninharam e dormiram, acordando apenas com o amanhecer. 
Permaneceram assim por cerca de cinco dias, até Akise estar sem provisões e ambos famintos e preocupados pelo que viria. Finalmente alcançaram o que parecia ser uma estrada e decidiram seguí-la. Não demorou muito para que um veículo passasse por ali, dirigido por um rapaz com curiosas orelhas de coelho. 
"Por favor, com licença, senhor!", acenou Akise, procurando-lhe chamar a atenção do desconhecido, "o senhor poderia..."
"MInha nossa! É um ciralak que têm ai com você?", perguntou, com pura curiosidade, parando a carroça e descendo olhando para o amigo de Akise. 
"Eu tenho... O quê?", perguntou confusa. 
"Um ciralak! É a espécie desse mascote aqui, são muitíssimo raros...", e estendeu a mão para a criatura agora denominada ciralak, mas esse desconfiado correu para as pernas de sua companheira, "tudo bem amiguinho!", levantou as mãos em rendição, sorrindo e só então reparou na moça desgrenhada e faminta, "... está tudo bem?"
"Eu... Eu gostaria de saber para onde está indo e se pode me dar uma carona... E-eu pago nossas passagens!", disse, com certo desespero de serem deixados para trás. 
"Que curioso... Pedir carona sem saber o destino do 'caroneiro'?", brincou o rapaz, mas ao reparou que a moça não parecia se divertir,"ei, tudo bem... Eu ajudo você. Não precisa me pagar passagem, subam e eu explico sobre o destino no caminho... Acho que você não tem muita opção", disse acanhado, praticamente lendo a palavra "fuga" na testa da outra. 
E subiram no veículo, iniciando uma nova jornada. O desconhecido apresentou-se como Yann, um brownie da guarda de Eel. Falou sobre Eel, sobre as guardas e toda a cidade, os membros do QG. Disse que era da guarda Absinto, mas estava em missão de transportar alguns alimentos de mascotes para o Purrerru. Explicou-lhe o que eram os mascotes e sobre o amigo de Akise. Disse que deveria lhe dar um nome antes de tudo. 
"... Yoru", decidiu a sarcedotisa; o então Yoru pareceu gostar do nome, pois levantou as cabeças e esfregou-as no braços da moça. 
Akise também explicou-lhe sobre sua origem, sobre seu destino e porquê fugira de seu povo. Yann apenas assentiu num silêncio solene, fazendo questão de dizer-lhe que seria mais que bem-vinda na guarda de Eel; ficou bastante tocada com as palavras dele. 
Passaram-se apenas alguns dias de viagem, mas Akise sentiu como se tivessem passado-se meses, pela expectativa e ansiedade pelo que se tornaria possivelmente seu novo lar. Torcia as mãos, nervosa e, quando finalmente saíram da interminável floresta para uma clareira, onde ao longe podiam-se ver muralhas de uma grande construção, Akise pensou que iria perder o juízo. Yann percebeu o nervosismo estampado no rosto da companheira de viagem e sorriu.
"Está tudo bem, ninguém vai lhe morder...", brincou e, quando aproximaram-se dos portões, o brownie respirou fundo e disse com uma nova solenidade:
- Bem-vinda a guarda de Eel!
Então a moça acordou, abrindo os olhos e sentando-se em sua cama. Levou um tempo para assimilar o sonho que tivera, tudo tão vívido, de quando escapara de sua terra natal para a liberdade. Abraçou-se, tremendo com o medo de que tudo que tivesse passado fosse apenas um sonho e que ainda estivesse aprisionada. Yoru pareceu perceber o quanto estava apreensiva, pois foi o único mascote que acordou e esfregou as cabeças nas mãos de sua companheira. Akise sorriu para ele, grata pela sua companhia: ao longo de sua estadia em Eel, tinha adquirido vários mascotes, sendo reconhecida por nunca conseguir resistir a nenhum deles. Todavia, Yoru continuava a ser o mais sensitivo com a elementalista, o mais próximo dela, o que era esperado considerando o que viveram.
Mesmo acordada, o sonho parecia continuar em sua mente, então conseguia ver com extrema clareza: Miiko aceitando-a relutantemente, as amizades que fez com todos os membros da guarda, o modo como Lunna, sua então melhor amiga a ajudara a instalar-se no novo ambiente e com os novos costumes. Ela sempre foi a sua pessoa de maior confiança, até que um nômade brincalhão e que adorava tirá-la do sério, chamado Amaya, apareceu e de certa forma tornou-se uma das pessoas mais importante para ela. Lunna e Amaya eram então seus dois melhores amigos, como verdadeiros irmãos para Akise. 
Sua cabeça latejou e despertou-a das lembranças; a pontada foi o que precisava para recordar o que a deixara tão derrotada. Tinha retornado de missão com Lunna e ambas foram tomar algumas bebidas. Entretanto, Akise bebeu demais e, fazendo o que sempre fazia quando estava bêbada, começou a dançar e cantar. Como de costume, subiu em uma das mesas, mas dessa vez, sua graciosidade vacilou e ela caiu, sendo amparada por Valkyon. Quando sua amiga aproximou-se preocupada, a bêbada risonha e trôpega começou a falar coisas sobre Lunna e Valkyon como um casal. Para calá-la, a moça deu-lhe uma cabeçada que nocauteou-a, sem nem mesmo conseguir olhar para o albino sem ficar extremamente envergonhada.
- Lunna vai me matar - disse, para ninguém em especial, grunhindo e afundando a cara no travesseiro. 
Decidiu talvez pela milésima vez que nunca mas iria beber; precisava de um pouco de ar e, acima de tudo, do oceano, então pulou da cama e foi esgueirando-se para fora do QG. Eram 9 horas da noite e o movimento era pouco, mas ainda estava ali; quase teve de entrar nas paredes para evitar uma Lunna que aparentemente ainda estava bastante envergonhada e furiosa. Depois de passar furtivamente pelo portão, correu em liberdade, planejando alcançar a praia o mais rápido possível. 
Ao alcançar os degraus de pedra que levavam a areia, desceu-os de dois em dois, quase tropeçando pela expectativa. Ao sentir a brisa marítima em sua pele, sorriu, quando a água tocou seus pés então, foi como se estivesse revitalizada. 
Demorou um tempo ali, com olhos fechados e um grande sorriso no rosto. Deixou os ventos assanharem seus cabelos, penetrarem em seus ombros nus, as ondas molhando a barra de sua saia. Então, apenas pelo puro deleite, começou a dançar com o movimento do oceano. Passou a guiar ela mesma o movimento, levantando a água ao ritmo de seus passos e rodopios. Estava perdida em um sonho, em que o líquido era seu parceiro de dança e tomava forma; podia jurar que sentia mãos em sua cintura. Rodopiou, com a presença misteriosa, sentindo-se ser conduzida, levantada para o ar e trazida de volta a terra.
Ao abrir os olhos então, finalmente reparou que seu parceiro de dança era físico demais.
Um desconhecido a encarava, ainda segurando-a, os olhos de um dourado tão intenso que prenderam Akise por alguns segundos, até que a elementalista raciocinou que bem, era um desconhecido.
Afastou-se de um pulo com um gritinho, mantendo uma posição defensiva. Tinha certeza de que nunca o tinha visto na guarda, mas tinha de considerar de que não faziam mais de 2 anos que chegara em Eel... Pensou na proximidade que estava com o estranho há poucos instantes e sentiu o rubor subir em seu rosto. Ao perceber isso, o rapaz aproximou-se e, para sua surpresa, tocou-lhe a bochecha com um olhar de clara preocupação.
- Você... Está bem? - perguntou, a voz rouca como a de alguém que estava com sede. Akise afastou-se novamente, tomada ainda mais pelo rubor. 
- Estou, mas isso... - e lembrou-se de Miiko, ralhando com ela porque confiava demais em desconhecidos - Quem é você e o que está fazendo aqui? - manteve sua posição, tentando mostrar-se autoritária.
- João... Meu nome é João e eu... Não sei de onde vim, nem para onde vou. Sou um andarilho que perdeu a memória... Só sei que não posso voltar de onde comecei - o então João respondeu distraidamente, sem parecer se sentir ameaçado com a posição de Akise - e você, quem é, de onde veio e o que está fazendo aqui? - o rapaz acrescentou de forma tão casual que mesmo sem perceber, a elementalista perdeu a pose.
- Eu... Akise. Você pode me chamar de Akise... Você disse que perdeu a memória?  Como sabe que não pode voltar de onde começou? - céus, tinha de aprender a controlar sua curiosidade. Se aproximava do estranho como se ele não pudesse representar mais nenhuma ameaça apenas por ter sido casual.
- É um prazer. E bem, pelo que pude perceber, apagaram minha memória para que eu pudesse ser assassinado, então voltar não seria a escolha mais sensata - embora tenha dado a resposta com certa indiferença, Akise chocou-se, cobrindo a boca com as mãos. Será que ele era malvado antes? O que teria feito para armarem um plano para matá-lo?
- Céus, que horrível! Me perdoe, mas por que precisariam apagar sua memória para matá-lo? - retrucou, ainda curiosa, mas tentando transparecer alguma sensibilidade.
- Eu tenho uma espécie de... Defesa em minha pele. Ela se torna praticamente indestrutível em situações extremas e talvez eu soubesse controlar isso e fosse um bom guerreiro... Me deixar confuso e perdido talvez fosse a maneira mais fácil de tentar me matar. Meu "assassino" na verdade foi bem inteligente - respondeu, numa espécie de suposição, desviando agora seu olhar para o mar. 
Seu perfil parecia bastante solitário enquanto encarava as ondas; a julgar pelo que lhe dissera, sabe-se lá quanto tempo realmente seguira sozinho sem rumo e sem ter com quem conversar. Sentia que precisava ajudar o rapaz e estava prestes a oferecer-se para levá-lo até Miiko, quando de repente, ele caiu de joelhos na areia. Por reflexo, correu até ele, tentando apoiá-lo mesmo que fosse bem pesado para si. 
- Ei, o que houve? Você está bem?!  - a elementalista gritou, transtornada. 
- Me perdoe, eu... Acho que me descuidei de minha alimentação - e desmaiou nos braços da jovem. Akise ficou alguns segundos sem ação, até que percebeu que sua única escolha era levá-lo a Ewelein.
Sobre bufadas e xingamentos, a moça apoiou-o em suas costas e foi arrastando-se com ele pela areia. Próximo a escada, viu o local onde ele tinha deixado seus calçados e pôs nos pés dele, choramingando por antecedência ao encarar os degrais de pedra. Durante todo o percurso, sentiu suas pernas vacilarem e, depois do que pareceu um século, estava nos portões do QG. Para sua sorte, Jámon fazia uma ronda noturna. 
- Jamoooooooooon, ajuuuuda - grunhiu, enquanto o outro, confuso, mas sem nenhuma dificuldade apoiou os dois. 
- Quem é esse que Akise trouxe? Desconhecido? - e parecia prestes a jogá-lo no chão, mas Akise interveio.
- Está tudo bem, não é uma ameaça! Ele desmaiou de fome, por favor, leve-o até a enfermaria, eu falo com a Miiko - depois de muita lábia e um quase choro, conseguiu convencê-lo.
Algum tempo depois, estavam Miiko, Akise e Ewelein discutindo na enfermaria. A kitsune recusava-se com toda sua autoridade a acolher aquele estranho, enquanto Akise teimava e Ewelein insistia para examiná-lo. 
- Você está maluca de trazer um desconhecido para dentro de nossas muralhas, Akise? Quantas vezes eu já disse para não confiar tão facilmente em ninguém? Pelo oráculo! - e jogou as mãos pro céu, com impaciência. 
- Mas ele perdeu a memória! Ele pode morrer de fome, eu não podia deixá-lo lá, Miiko - e parecia prestes a chorar, pois nunca conseguia discutir sem fazê-lo. 
- E se ele for um inimigo? Se for um aliado de Ashkore? - rosnou a kitsune, esfregando as têmporas com o indicador e o polegar.
- Eu assumo responsabilidade por ele, eu juro!
- Ele não é um mascote, Akise!
- Mas é lógico que eu sei disso! Estou dizendo que vou ficar de olho nele e cuidar para que não faça nada errado... Ele pode ser útil, como um de nós, um guerreiro - argumentou, gesticulando para o rapaz desnutrido; Miiko encarou-a, incrédula. 
Ewelein que já o examinara, parecia estar frustrada com alguma coisa, quando pediu para que as duas calassem as bocas. Ambas olharam para a elfa, em choque: tudo bem falar daquele jeito com Akise, mas com Miiko? A médica entretanto virou-se para elas com o rosto muito sério. Segurava uma agulha ligada a um fio e a uma bolsa cheia de líquido, com certeza algo para nutrir o jovem. Todavia, quando a kitsune a elementalista deram a devida atenção, repararam que a agulha estava torta. 
- Oh, bem... Essa deve ser a tal defesa que ele falou - disse Akise, parecendo tímida enquanto as outras duas encaravam-na em choque.
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Depois de sofrerem consideravelmente para diblarem a defesa de João, conseguiram pôr a agulha em sua pele. Abismada com a habilidade do rapaz, Miiko não conseguiu negar a cobiça que tinha por ter ele como guerreiro de sua guarda, então não falou mais nada. Akise passou a noite do lado de João, cumprindo com o prometido de ficar de olho nele, mesmo que tenha dormido a maior parte da vigília. Acordou de manhã cedinho e teve a ideia de preparar um caldo nutritivo para o jovem enquanto ele não acordava. 
Ao passar para a cantina, entretanto, cruzou justamente com Lunna. Com o excesso de informações na cabeça, esqueceu-se de que a amiga deveria estar furiosa com ela, então quase teve um ataque cardíaco quando a outra atacou-lhe com um mata-leão.
- Se está andando tão distraída é porque não lembra de metade dos acontecimentos de ontem, não é, sua bêbada nojenta? - sibilou.
- Aaaaaa, para, porr-eu vo mo-rrê - Akise se debateu e virou os olhos dramaticamente, fingindo um desmaio.
- Não pense que vai escapar assim! Acha que pode fazer como bem entende e não enfrentar as consequências depois? Eu não estou nem conseguindo olhar na cara do Valkyon - retrucou Luna furiosamente, as bochechas corando violentamente com a lembrança. Akise levantou-se de um pulinho.
- Me desculpeee! Eu vou compensar você, agora eu tenho uma espécie de missão importante! - e foi andando, mas não antes de virar-se e dar um sorriso descarado - mas se você quer saber, já estava na hora de alguém jogar a verdade na cara do chefinho - e saiu correndo antes que a amiga pudesse bater nela novamente. 
Conversou com Karuto e entraram em consenso sobre o que seria melhor colocar no caldo nutritivo. Quando pronto, admiraram o resultado que deixara um aroma delicioso pairando no ar. Akise agradeceu pela ajuda e levou o prato com uma colher, tentando andar o mais rápido possível sem derramar o conteúdo. Chegando na enfermaria, esqueceu-se de baterr a porta e simplesmente equilibrou o prato em uma das mãos, entrando no meio de uma conversa entre Ewelein e o então acordado João. Teve a decência de parecer constrangida pela falta de educação.
- Eu trouxe um pouco de caldo nutritivo, pedi ajuda ao Karuto para fazê-lo - avisou, enquanto se aproximava  - tudo bem se eu der a ele agora, Ewelein? - a enfermeira deu de ombros. 
- Tudo bem... Ele é em grande parte responsabilidade sua já que o trouxe, Akise - e parecia divertida pela nova tarefa da elementalista, que fez uma careta, refletindo sobre o que incubira a si mesma. Voltou sua atenção para o jovem na maca, que a encarava fixamente como se tentasse lê-la, os olhos dourados cheios de... Inocência, curiosidade? Não saberia bem dizer o que via ali, mas o que tinha certeza é de que era uma boa pessoa, desamparada e que merecia sua ajuda. 
Ajudou-o a sentar-se, ajustando as almofadas para que ficasse confortável. Sorriu com confiança e tocou-lhe a testa, medindo sua temperatura.
- Você parece melhor - e sentiu-se também aliviada - não parece mais febril - puxou o prato para o colo e foi dando-lhe de colheradas. João estava tão faminto que não demorou muito a acabar com todo o caldo que Akise lhe trouxera. 
- ... Obrigado - ele finalmente falou alguma coisa, enquanto a moça punha a louça sobre o criado-mudo - mas... Onde eu estou? - e pareceu um pouco confuso, tentando absorver o que acontecera nas últimas horas. 
- Você está na enfermaria do quartel-general da guarda de Eel e se assim escolher, seu novo lar - a outra respondeu, tentando soar receptiva.
- "Lar"...? - e a cabeça do rapaz tombou de lado, em clara confusão. Não pode deixar de achar sua dúvida adorável; a resposta lhe veio tranquilamente, ao refletir sobre sua família, sobre a Guarda de Eel. 
- Uma espécie de... Lugar para voltar - e deu um sorriso caloroso com as lembranças que lhe vieram a mente. Entretanto, a resposta pareceu deixar o rapaz entre surpreso e assustado, pois arregalou os olhos e pôs a mão no peito.
- V-Você está bem? - puta merda, tinha dado um ataque cardíaco de bondade no moço?
- Eu... Estou sim, bem - ele respondeu, mas olhou-a com uma desconfiança que deixou-a desconfortável. 
- Que bom... Eu vou deixá-lo pensar se... - estava prestes a levantar-se, mas o rapaz segurou seu braço.
- Eu vou ficar... Vou sim, mas... Fique - e céus, encarou-a com uma intensidade que desistiu de levantar-se no meio do caminho, ficando com uma expressão bastante atrapalhada enquanto voltava a se sentar.
E assim encarou-a por algum tempo enquanto ela tentava preecher o silêncio constrangedor com algumas perguntas ou outros assuntos bobos. Depois de um tempo, sentiu que não poderia aguentar mais o olhar do rapaz sobre si e inventou alguma desculpa para sair. João apenas assentiu e observou-a andar até a porta. 
Quando saiu de sob o olhar do rapaz, a moça respirou bem fundo e saiu andando não sem antes murmurar furiosamente um "puta que pariu, que olhar intenso é aquele, porra".
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Eram meses depois do acontecido e mais uma vez, Akise acordava no meio da noite, desta vez de um daqueles sonhos onde se está caindo; abriu os olhos e arqueeou a coluna, sentando-se de uma vez para ter certeza de que estava em terra. Bufou ao perceber-se em sua cama e sem sono, com uma missão para cumprir pela manhã. Frustrada e irritada, revirou os olhos e caiu de costas em sua cama, aterrissando no travesseiro. 
Depois de um alguns minutos, sorriu ao conseguir identificar o ressonar suave ao seu lado. Virou a cabeça e admirou o rostinho adormecido de João, os traços delicados e supostamente vulneráveis. O contorno do seu rosto até a nuca, as fios cinza caindo sobre a testa... Os ombros fortes pelo treinamento, as costas esguias e bem... Sexys, que não pareciam pertencer àquele rostinho tão inocente. Assim como Akise, gostava de dormir de bruços, e isso lhe dava uma visão privilegiada de sua nuca e costas. Talvez - apenas talvez - fosse por causa daquela bendita visão que a elementalista demorasse a voltar a dormir quando acordava no meio da noite. 
Estava tão distraída com sua "paisagem particular" que não percebeu quando o outro abriu um dos olhos e encarou-a com divertimento.
- Você perdeu alguma coisa? - murmurou, sonolento. Akise piscou, pigarreando e tentando se recompor, constrangida por ter sido pega observando-a.
- "Você perdeu alguma coisa"? Não acha que está andando demais com Ezarel? - e franziu o cenho, reconhecendo uma das expressões utilizadas pelo elfo.
- Seria a convivência, imagino - o outro deu um sorrisinho, virando-se de lado na cama. 
- Estava sonhando? - perguntou-lhe a elementalista, acariciando suavemente seu rosto.
- Sim... Com aquele dia, o do sorvete... Da explicação sobre o "amor" - e pareceu feliz com a lembrança. A outra deu um tapa na testa e deixou escapar uma risada, o que fez João encará-la em confusão.
- Desculpe, é que... Acho que foi nesse dia que eu percebi que começava a amar você - e pareceu constrangida, já o rapaz, bastante animado,
- É mesmo? Desde essa época?
- Sim...! Céus, lembro muito bem...
E conseguia lembrar de tudo sim. João pedira-lhe uma explicação sobre o amor, citando o casal Aragan e Cicely. Recordava as exatas palavras que dissera.
"Sim, amor, João... Existem vários tipos, como o familiar, de pais para filhos, de irmãos, o amor de amizade, que pode ser como o de família, um amor mais de afeto e proteção... E bem, o amor deles, é... Como eu explico... Você sente seu coração acelerar quando a pessoa está perto e fica ansioso, feliz, tudo junto! Sente que poderia mover o mundo por ela e quando não pode tê-la por perto, sente intensamente sua falta... Você quer que ela saiba o tempo inteiro o quanto é especial, que pode contar com você e... e...", lembrou-se que nesse exato momento, percebeu que podia descrever tão bem não apenas pelo o que lia e via, mas começava a sentir brotando dentro de si, sob efeitos daqueles olhos curiosos e gentis. 
O que viera em seu pensamento em seguida foi "PORRA, não, Akise! Olha a carinha dele, ele está começando a entender as coisas agora! Não, se controla! Pela deusa!" e tentou inutilmente diminuir as velocidade que batia seu coração. O rapaz entretanto parecera satisfeito com sua explicação, tocando seu próprio peito e dizendo "Acho que eu consigo entender!" com um adorável sorriso. 
E claro, quase morrera engasgada com o que ele lhe perguntara depois; isso não esqueceria nunca. 
O que vieram depois foram meses dela tentando reprimir seus sentimentos, sendo sempre paciente e companheira para o Kawariless que aos poucos construía sua identidade e autonomia. Entretanto, não conseguia deixar de ficar contente pelo fato de que, mesmo com a confiança e independência que conquistara, ainda gostava de estar sempre com ela, de tirar suas dúvidas com a elementalista e ajudar com seus hobbies. Quando Miiko começou a enviá-los em missões separados, era uma imensa frustração; ao vê-lo, com um sorriso que apenas ela recebia, os braços abertos, sentia que a espera valera a pena. 
Ao mesmo tempo que necessitava imensamente protegê-lo, ele era também seu porto seguro, alguém que sempre estava disposto a escutá-la, que secava suas lágrimas quando fazia alguma bobagem ou discutia seriamente sobre alguma coisa e chorava por isso. 
Era aquele olhar, que reconhecia o que tinha feito por ele e o que tinha lhe oferecido, que tinha gratidão e, pelo que aprendeu depois de um tempo, carinho. Olhos dourados intensos, onde sentia-se perder facilmente. 
Lembrava-se que discutira naquela missão, porque não concordavam com sua visão pacífica e mais uma vez chorara, só que ele não estava ali. Então sua ausência doeu, sufocou-a e sentiu que não poderia mais guardar aquilo, que não aguentaria mais a força do sentimento preso. Voltara de missão e, como sempre, ele estava no portão, o rosto ansioso procurando-a no meio da multidão.
Pulara nos braços dele, permitindo-se captar seu calor e aroma inebriantes, a forma atrapalhada como ele lhe devolvia o carinho, mas bastante feliz. 
E então, para sua enorme surpresa, ele anunciou que precisava falar com ela, uma expressão urgente que nunca vira em seu rosto.
"Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa", tinha perguntado imediatamente, preocupada que alguém tivesse feito alguma coisa com ele enquanto estava fora. 
"Sim, estou bem e aconteceu...", ele arrastara-a até o jardim de música e só então virara-se, parecendo orgulhoso, com as mãos na cintura "entendi o que você quis dizer com o 'amor' de Cecily e Aragan!"
O alívio de alguma coisa mais séria não ter acontecido fora tanto que caíra na gargalhada. João franzira o cenho, perguntando-lhe porque estava rindo.
 "Eu... Não, me perdoe... E-eu... Muito bem, que bom, mas como assim?", tentara assumir uma expressão séria para a explicação do rapaz.
"Eu... "senti"..! Enquanto você estava fora, muuuuita falta e doeu aqui", ele dissera, tocando o próprio peito,"e eu fico muito feliz quando estou com você e não frustrado, mas ansi--ansioso para lhe ver novamente quando está longe... Além do que, eu quero muito lhe proteger e que você saiba que é... Importante. Para mim.", sua expressão gesticulando com os olhos arregalados era simplesmente adorável.
"E consegue sentir?", tinha puxado a mão da elementalista para seu peito, onde sentia-se claramente a velocidade dos seus batimentos cardíacos, "está mais rápido! Você não me disse que isso acontecia?"
Pela primeira vez desde que tinha garantido sua personalidade, integridade e conhecimento, não sabia o que dizer. Abriu e fechou a boca, sentindo-se uma idiota por não ter uma resposta. O que diria? Que sonhara com aquela declaração por meses, que chorara várias noites pelo sentimento sufocado? Era o alívio aquilo que a inundava por dentro, que a lavava e deixara aquela sensação quente, as borboletas que dançavam em seu estômago? 
Tentara levantar a cabeça e olhá-los nos olhos, mas não conseguira.
"O que diabos você está fazendo comigo, João Kawariless?"
Para sua segunda grande surpresa naquele dia, o maior aproximara-se dela, tocando sua face delicadamente com as mãos e levantando seu rosto a fim de que pudesse olhar em seus olhos. Foi chegando mais perto, tomando seu ar, seu raciocínio, tudo. Mal ouviu o "posso?" que ele murmurou antes de finalmente selar os lábios nos seus. 
Aquilo era o paraíso: João movia-se lenta e cuidadosamente como se pudesse quebrá-la, mas quando a moça assumiu sua paixão e pôs as mãos em sua nuca, entregou-se por inteiro, assim com ela. Mesmo no momento conseguia ver aqueles olhos, derretidos, brilhantes e aquele sorriso de pura felicidade.
"Acho que você sente também, afinal você descreveu muito bem", ele dissera e então permitiram-se rir, não por algo engraçado, mas droga, estavam tão felizes. 
Voltou à realidade, para aqueles mesmos olhos que ainda a encaravam com o mesmo brilho, a mesma paixão que lhe tiravam o fôlego e a consumiam por inteiro. Puxou-o para si, aninhando-o em seu peito, envolvendo-o entre os braços como se quisesse fundí-lo com ela mesma. 
Respirou fundo com a pura felicidade de um momento tão simples, preenchida por uma absoluta certeza. 
Era ali que tinha de estar.  

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